Empresas têm dificuldades para realizarem suas estratégias. Com frequência, o problema não está nas atividades de planejamento, mas, sim, na execução.
A implementação da estratégia, quando esta é bem formulada, demanda mais do que ações pontuais, mas a implementação de iniciativas estruturantes. Raramente, mudanças com impacto estratégico real são resultantes de ações determinísticas, ou seja, com resultados certos e garantidos. No lugar disso, resultados estratégicos são alcançados com “estímulos” que conduzem a organização para o lugar certo.
Iniciativas estruturantes impactam, invariavelmente, a arquitetura corporativa.
Seja para a evolução ou para a transformação do negócio, ajustes arquiteturais são sempre necessários e estes tem mais chances de sucesso quando conduzidos com metas claras e métodos consolidados. Quando o assunto é execução da estratégia, amadorismo e improviso costumam gerar péssimos resultados.
O que é arquitetura corporativa?
Antes de explicar “arquitetura corporativa” (enterprise architecture) é útil entender, primeiro, o significado dessas duas palavras, “arquitetura” e “corporativa”, isoladamente.
Arquitetura trata dos conceitos ou propriedades fundamentais de um sistema em seu ambiente incorporados em seus elementos, relacionamentos e nos princípios de seu design e evolução. ISO/IEC/IEEE 42010:2011 |
De maneira geral, arquitetura sempre trata de “entender o todo a partir das partes”. Ou seja, decompor sistemas em seus elementos, explicitando responsabilidades destes, explicando como eles se relacionam e, finalmente, entendendo como eles devem evoluir ao longo do tempo.
O padrão TOGAF considera “enterprise” qualquer conjunto de organizações que têm objetivos comuns. Por exemplo, uma “enterprise” pode ser:
The TOGAF Standard, Version 9.2 |
Quando fazemos análises sob a perspectiva “corporativa”, estamos SEMPRE analisando sistemas organizacionais em sentido amplo, holístico, integrando desde a perspectiva estratégica, relacionando tática e operação, geralmente sob quatro ângulos:
- negócios, contemplando a estratégia de negócios, métodos de governança, estrutura organizacional e táticas, papéis e responsabilidades, processos-chave e práticas operacionais;
- dados, indicando a organização e estruturação, lógica e física, dos recursos para aquisição, tratamento, manutenção e gestão dos dados chaves da organização, ampliando-os a informações e conhecimento;
- aplicações, considerando os diversos artefatos que suportam o negócio, a forma como são desenvolvidos e distribuídos, seus relacionamentos e integrações.
- tecnologia, incluindo todo software e hardware necessário para que a organização consiga atingir sua intencionalidade (negócios), adequadamente suportada por dados e aplicações. Trata da infraestrutura de TI, mas não está restrita a ela.
Arquitetura corporativa como prática
Frente a conclusão de que toda enterprise possui uma arquitetura, é útil, também, entender que há um conjunto de práticas e padrões, papéis e responsabilidades, que podem ajudar em sua definição e evolução.
A arquitetura corporativa (EA) é uma disciplina para liderar de forma proativa e holística as respostas corporativas às forças disruptivas, identificando e analisando a execução da mudança em direção à visão de negócios e aos resultados desejados. A EA agrega valor ao apresentar aos líderes de negócios e de TI recomendações prontas para o ajuste de políticas e projetos para alcançar resultados de negócios direcionados que capitalizem em interrupções de negócios relevantes. Gartner |
As práticas de arquitetura corporativa tiveram sua origem dentro de departamentos de TI. Entretanto, é fundamental deixar claro que, modernamente, elas, por razões óbvias, extrapolam as fronteiras de qualquer departamento da organização.
Sendo bem claro, arquitetura corporativa não é arquitetura de negócios, software, dados, integração ou infraestrutura. Entretanto, a prática das arquiteturas de negócios, software, dados, integração e infraestrutura são “orquestradas” pela arquitetura corporativa.
Há, no mercado, métodos e frameworks consagrados, como o TOGAF, que dão referências sólidas sobre o que deve ser feito e como. Entretanto, é essencial que cada organização “tropicalize” essas práticas a suas realidades.
O papel do arquiteto corporativo
Toda organização tem uma arquitetura. Nem sempre, entretanto, como já dizemos, ela é suportada por boas práticas arquiteturais.
Há quem entenda que as boas práticas arquiteturais devem ser reforçadas e praticadas por todas as lideranças e concordamos com isso. Entretanto, também entendemos que algo que é responsabilidade de todos, acaba recebendo cuidados de ninguém. Assim, é importante a definição de um papel responsável por implementar práticas de arquitetura corporativa do jeito certo.
O arquiteto corporativo, em uma organização, é o responsável por garantir que boas práticas de arquitetura sejam adotadas. Ele os esforços estratégicos, táticos e operacionais, suportando decisões que facilitem a realização da intencionalidade.
O arquiteto corporativo é, idealmente, um orquestrador. Ele garante que todas as partes interessadas sejam ouvidas e suas ponderações sejam levadas em conta na formulação da arquitetura. Para isso, elabora e mantém artefatos abrangentes que facilitam o engajamento.
O arquiteto corporativo deve, de tempos em tempos, revisar a estrutura de componentes e suas relações de um software para garantir que os objetivos do negócio serão atingidos, as restrições obedecidas e os atributos de qualidade atendidos. Além de tudo isso, o arquiteto deve adotar postura “provocativa” para verificar se a entrega está maximizada frente ao melhor custo.
Arquitetura corporativa é multi-temporal
Quanto mais explícitas forem as condições atuais (AS-IS) e mais explícitas forem as expectativas para o futuro (TO-BE), mais fácil será planejar a evolução arquitetural através de “arquiteturas intermediárias”.
Relação com a lei de Conway
Tratar da arquitetura de um software, dados ou infraestrutura implica, fatalmente, em tratar da estrutura da organização que o utiliza e vice-versa.
Organizações que desenvolvem sistemas tendem a produzir sistemas que são cópia das estruturas de comunicação dessas empresas. Melvin Conway |
A estrutura dos componentes de um software, por exemplo, impacta na formação dos times que vão desenvolver o software. Não há, por exemplo, chances de implementar arquiteturas baseadas em microsserviços em estruturas organizacionais com times monolíticos. Se o time for indivisível, o software também o será!
A lei de Conway Se você deseja entender mais sobre a lei de Conway, preparamos um conteúdo com áudio e vídeo que a explica em detalhes. |
A arquitetura de software, porém, excede a estrutura dos times de desenvolvimento. Na prática, a estrutura de componentes de um software acaba impactando também a própria estrutura corporativa da empresa que adotará o produto tecnológico. Isso leva, por exemplo, a profundas modificações, mesmo em empresas sólidas, quando há migração de um sistema chave ou, ainda, resistência acentuada a mudança e aumento dos custos.
A arquitetura corporativa equilibra e alivia os impactos da lei de Conway, garantindo maior eficiência e eficácia.
Esse é apenas o começo de uma grande e bela jornada
Gostamos muito da ideia de dar passos consistentes na direção certa, o tempo todo. Nesta introdução, tentamos consolidar impressões sobre arquitetura corporativa, suas práticas e as atribuições de um arquiteto. Nos próximos capítulos, vamos apresentar algumas “boas práticas” que temos vivenciado como arquitetos e consultores.
// TODO
Antes de avançar para o primeiro capítulo, recomendo as seguintes atividades:
- Reflita sobre as práticas de arquitetura corporativa que você tem presenciado. O que tem funcionado? O que não tem gerado os resultados esperados?
- Você consegue relacionar, hoje, arquiteturas de negócios, dados, aplicações e infraestruturas em sua organização?
- Você consegue relacionar os principais objetivos estratégicos de negócio na empresa onde está atuando?
Muito bom! O texto está claro, bem didático.
Acredito que seria mais claro destacar que a arquitetura corporativa é a combinação e organização dos elementos citados e seus relacionamentos que permite que a empresa exista e cumpra seus objetivos, tenha ela uma estratégia para isso ou não.
Assim fica mais claro dizer que a arquitetura pode ser emergente, onde a organização dos elementos surgiu sem planejamento para atingir algum dado objetivo na vida da empresa.